Apresentação do História e Arqueologia Bíblica

22 dezembro 2013

A HISTORICIDADE BÍBLICA E A CRÍTICA

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Os séculos XIX e XX presenciaram o auge de um movimento que teve seu berço na Renascença. Se a Idade Média foi caracterizada por uma forte tendência teocentrista, onde a explicação de tudo só podia-se achar em Deus, a nova era que despontou na Europa trouxe consigo uma brusca troca de paradigma. Agora, o homem estava sendo elevado ao centro do universo, o antropocentrismo. E foi então que o materialismo pode fincar suas garras na espiritualidade medieval, que vinha se eclipsando ao longo dos últimos séculos, sufocando-a e prevalecer.
Quando analisamos o desenrolar dos acontecimentos nos séculos seguintes, percebemos que os filhos deste período de criticismo da fé foram o ateísmo, o humanismo, a perda de valores e o relativismo moral.
Indubitavelmente, a Bíblia não passaria desapercebida aos olhos deste período. Nunca antes ela fora tão veementemente questionada e atacada. Grande parte de suas histórias foram taxadas de pura ficção ou mitologia. A própria palavra grega mitos com o passar do tempo veio a perder seu significado primário, que em sua concepção mais originária, significava simplesmente história. E com esta metamorfose semântica, ela veio a ser sinônimo de algo imaginário, ideia falsa, que distorce a realidade, uma fábula.
E foi exatamente assim que muitos estudiosos começaram a descrever os relatos bíblicos. Muitos viam neles distorções históricas, manipulação das elites religiosas,  complôs para domínio das massas populares, invenções de sacerdotes, etc. E os antigos heróis viraram vilões nas mãos destes homens. Diziam que nunca houve um Êxodo, consequentemente nem Moisés, nem travessia do Mar Vermelho (ou dos Juncos, como seria a leitura mais correta), nem uma conquista de Canaã. Para tais estudiosos, Davi foi um rei mitológico, inventado para dar a Israel um herói e sentido de nacionalidade e patriotismo. O Abraão de Gênesis seria totalmente anacrônico, ou seja, não se encaixava no que conhecíamos do contexto da época em que a Bíblia insistia em colocá-lo. Mas o grande modelo de Mitologia Bíblica, segundo eles, era a estoria de Noé e sua arca.
Naturalmente, a igreja cristã reagiu a esta situação, e em muitos casos, infelizmente, refugiando-se no fundamentalismo cristão, afirmando a veracidade bíblica, por ser ela, a Bíblia, a própria verdade. Tal resposta foi ridicularizada pelos seus opositores. Como poderia – argumentavam - o réu ser absolvido apenas contando com a sua palavra de que era inocente? E quanto mais a religião fundamentalista entrava em seus guetos, mais os seus inquisidores apresentavam materiais encontrados em suas buscas arqueológicas.
Entretanto, veio da própria arqueologia o primeiro passo para a revisão dos conceitos estabelecidos pelos críticos. No fim do século XIX entra em cena Heinrich Schliemann, que dedicou sua vida a busca da Troia de Homero. Nesta época, ela era igualmente considerada uma lenda, fábula e mito. Diziam que as histórias narradas por Homero não passavam de fantasias do autor. Eles estavam convictos que Troia nunca existira.
E foi o determinismo de Schliemann que pôs fim a estas afirmativas. Suas pás e picaretas colocaram toda a comunidade de historiadores e arqueólogos em xeque. As descobertas dele deram um impulso para se revisar todas as chamadas mitologias antigas. E muitos se lançaram a tarefa de repetir a façanha de Schliemann. Alguns partiram para o Oriente Médio, a fim de procurar a verdade sobre as “mitologias bíblicas”. Neste ponto, na virada do século XIX para XX, foi o marco revolucionário para a arqueologia bíblica.
Foi então que as pedras começaram a clamar...
Uma a uma, as histórias das páginas da Bíblia começaram a virar fato e não mais uma simples lenda ou fábula. Teorias formuladas iam sendo desacreditadas e em seu lugar se formavam outras teorias mais adequadas com o texto das Escrituras.
As tabuinhas de Ebla, por exemplo, confirmaram o contexto cultural do Abraão bíblico. Duas pequenas inscrições achadas em Israel, devolveram ao rei Davi novamente a sua historicidade. A descoberta da biblioteca real em Nínive presenteou o mundo com as impressionantes narrativas acadianas e sumérias (datadas como algo em torno do III Milênio a.C.) sobre o início do universo e humanidade, o que muitos têm traçados interessantes paralelos com Gênesis. Outra pedra memorial egípcia identifica Israel como um estado existente já no XIII séc. a.C., o que forçosamente corrobora com as datas bíblicas para a conquista da terra de Canaã e consequentemente um Êxodo no séc. XV a.C. As descobertas arqueológicas do período do Novo Reino no Egito se coadunam com o pano de fundo da História de Moisés em detalhes constrangedores aos céticos. O Dilúvio nos tempos de Noé, amplamente atacado, foi desenterrado na Mesopotâmia. As evidências deste cataclismo se acumulam tanto, que não se discute mais se ele foi real ou não. Atualmente a crítica recai sobre a amplitude deste fenômeno (local ou universal?). Segundo alguns, a mais notável descoberta em Israel no século XX foram os famosos Manuscritos do Mar Morto, que mostram a imutabilidade dos textos bíblicos nos últimos 21 séculos!!!
Mas apesar dos avanços feitos na defesa dos relatos bíblicos, ainda existem uma série de perguntas sem respostas. Quanto mais sabemos sobre o passado, e mais material saem das escavações arqueológicas, mais precisamos olhar com olhos críticos a “História oficial”. Como já dito por alguém , os arqueólogos enterram provas na mesma velocidade com que as desenterram. Para termos um quadro imparcial da História, precisamos abandonar tanto o fundamentalismo religioso como anti-religioso. A busca da verdade pode ser obtida através da ciência, que hoje em dia cada vez mais reconhece que a religião pode ser um forte aliado na descoberta do mundo. Interessante notar que as antigas civilizações nunca separaram religião de ciência. Estamos aprendendo hoje que eles estavam absolutamente certos!

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