Apresentação do História e Arqueologia Bíblica

11 abril 2014

"NOÉ" - UMA ANÁLISE...

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O filme "Noé" tem levantado muitos comentários, críticas e debates nos últimos dias. Precisei tomar a atitude de ir assisti-lo no cinema, algo qque raramente faço. 
Fui sem expectativas de ver um filme bíblico, pois quem conhece um pouco da "filosofia" da indústria cinematográfica americana, sabe que quando o filme está "baseado em fatos reais", ou é  uma "adaptação" para o cinema, podemos esperar que o enredo seja totalmente independente da história original. Aqui sempre vale a máxima "o livro é melhor que o filme!", no caso, a Bíblia.

Ao entrar na sala de exibição, fiz isto com a intenção de ser o mais isento e imparcial em relação ao que iria aparecer na telona. Com vários anos de especialização na temática a ser abordada (mundo pré-diluviano e Dilúvio, do ponto de vista histórico-
teológico), sei que existem várias histórias sobre o Dilúvio, inclusive dentro da tradição judaico-cristã. Por isto decidi assistir não como um teólogo ou historiador que sou por formação, mas como simples espectador, e aí sim fazer uma análise do ponto de vista mais técnico.

O início pareceu-me muito promissor. O roteirista e o diretor captaram alguns pontos chaves na preparação do pano-de-fundo da parte de uma possível reconstrução histórica. Animei-me e isto me prendeu ao filme. Logo de começo, o detalhe interessante foi a atmosfera diferente do mundo pré-diluviano que o filme lança aos olhos dos espectadores. Pensei comigo mesmo "parece que vai ser bom!".

Quando começa a parte dos anjos, aí sim colei no filme... Mas, em pouco tempo, começaram os problemas. De espectador, virei crítico, historiador, teólogo. Nada mais foi tão animador e com boas perspectivas ao longo do filme. Desesperador foi ver o roteirista detonar logo com Enoque (o livro)! Não querem ser fiéis ao texto bíblico, ter suas licenças artísticas, ou seja lá o que for, tudo bem (!?!?); mas violentar e colocar tudo de cabeça para baixo, já é demais! O que fizeram com a questão dos anjos caídos foi transformar o culpado em vítima. Para o roteirista, Samyaza é uma pobre vítima da maldade humana, um anjo cheio de boas intenções que foi traído por nós, humanos. Não entendemos suas nobres intenções para conosco. Quem não teria pena de um cara destes que se sacrificou por nós e foi tão mal compreendido, quase um Cristo??? 

Mas para Enoque, ele foi o motivo e desencadeador de todo o extermínio na Terra; e que, ao contrário do redimido anjo do filme, passará a eternidade condenado, sem chance de perdão. Eles, os "sentinelas", os "vigilantes", teriam sim sido mandados para cá para auxiliar a nova raça, como afirma o Livro dos Jubileus. Contudo, alguns deles teriam "caído", abandonando seus postos (como diz Judas) e acabaram por deleitarem-se em seus desejos com as humanas (e sabe-se lá com quem e o que mais!!!). Não, os "caídos" não são os bonzinhos da história... mas o roteirista achou que podia dar uma ajuda para eles e até redimi-los no final das contas. É mais um daqueles apelos pós-modernos do tipo "tudo bem, desde que se amem". Deus parece ter a obrigação no final de salvar todos, até os indesculpáveis, pois se Ele tiver misericórdia dos malignos sentinelas, nós podemos aprontar o que quisermos que no fim vai dar tudo certo... Pena que não é isto que tanto a Bíblia, quanto a literatura enoquiana ensinam...

Mas voltemos para o enredo. Existe sim a possibilidade de "anjos", não os caídos obviamente, terem ajudado na construção.... Não, Noé não necessariamente pregou para o arrependimento dos outros  humanos (descendentes de Caim), pois a raça estava corrompida e não haveria mais salvação (Noé não era Jonas!!!)... Não, os "caídos" não eram monstros de pedra, mas levaríamos muito tempo para abordar toda esta parte da identificação dos sentinelas (vigias), e desviaríamos do assunto. Quem sabe num próximo post....

O conceito da Pangeia aparece no filme em uma cena, quando mostra o mundo antes do Dilúvio iniciar. Esta ideia é bem explorada dentro de ramos do criacionismo, o que garante certos pontos pros diretores. Mas creio que poucos tenham prestado atenção nisto, pois nestas alturas, já estavam jogando tomates na tela....

A entrada de Tubal-caim na arca é uma "adaptação" de uma lenda judaica sobre um gigante que ficou pendurado do lado de fora da arca, que acabou se salvando e depois seria o pai dos gigantes que habitariam a terra de Canaã. Esta história estranha é uma tentativa para remediar um assunto embaraçoso da narrativa bíblica, já que aparecem gigantes quando não haveria mais possibilidades de isto acontecer devido ao Dilúvio. Não é a única explicação, mas é de qualquer forma uma alternativa, e parece que o roteirista resolve explorar esta ideia para dar um pouco de continuidade na história do filme, pois sem ela, o enredo acabaria com o fechar da porta da arca. 

E sobre a pele da cobra? Por que ela passa de geração em geração e é o "amuleto" na hora de passar a benção? Somos frutos da herança da serpente? Não consegui assimilar a ideia aqui. Espero que não seja algo a se discutir, pois se for intencional, duvido nestas alturas que seja para a "sã doutrina".

Basicamente é perceptível que o roteirista está muito bem familiarizado com os textos extras-bíblicos sobre o assunto. Isto é fundamental para a visão um pouco mais "alternativa" da história. Tudo bem, sei que ele extrapolou quando fez de Noé um cara completamente atormentado por seus conflitos internos. Se Noé, o da Bíblia, andava com Deus (como o texto diz), não creio que seria um cara alienado dos planos divinos para o futuro próximo. 

Um ponto fez-me refletir. Quando estão dentro da arca, as pessoas lá fora estão batendo, talvez penduradas do lado de fora tentando se salvar, e Noé aparece como um impávido colosso esperando que as vozes e batidas se acabem. Não creio ser impossível ou improvável pensar que isto tenha de alguma forma acontecido. Que sentimentos podem ter corrido pela mente de quem estava lá dentro? Quais os conflitos internos que podem ter ocorrido dentro deles? Pode ser que nunca saberemos, mas fica a reflexão: como agiríamos se soubéssemos que isto pode acontecer nos nossos dias? Aliás, já acontece, pois as pessoas estão cada vez mais parecidas com aquela geração, assim como disse Jesus.  

Creio que, em resumo, o filme não é "bíblico" como muitos gostariam. Se fosse uma ficção tipo "Senhor dos Anéis", ou uma história num outro mundo (ao estilo "Avatar"), muitos estariam usando os paralelos evidentes de redenção e salvação que aparecem no filme. 

Não queridos irmãos e irmãs, o filme não foi feito para glorificar a Deus, como já vi por aí pessoas dizendo... Mas esperavam o contrário? Filmes são feitos para se ganhar dinheiro, e se passar imagens ideologizadas, que no caso cada vez mais tendem a ser no estilo ideológico que reinava antes daquela porta na arca se fechar...

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