Apresentação do História e Arqueologia Bíblica

13 abril 2015

A NECESSIDADE DE UM TEMPLO

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Já fiz muitas perguntas na área teológica. Não, não aquelas perguntas que levam a debates longos e inconclusivos, mas questões que sempre iam além daquilo que fora fixado pela tradição teológica e herdada sem questionamentos mais profundos.

Aliás, faço uma separação entre o que a Teologia diz e o que a Bíblia diz. Alguns acabam confundindo os dois.  Teologia,
para mim, é a interpretação que fazemos dos textos bíblicos (e às vezes, de outros textos e conceitos). Neste sentido, todos somos, em maior ou menor grau, teólogos (da mesma forma que somos filósofos, mesmo que tendo como filosofia, não gostar de Filosofia!!!).

Algumas destas questões que me faço a alguns anos são: qual a função do Templo em Jerusalém (e já nem falo daquele que tem São Paulo!)? Ele precisava ser construído? Que desvios poderíamos ter de Deus com este conceito de um Templo e da própria necessidade de termos um Templo?

Parecem inapropriadas tais perguntas, e em certos casos, alguns acham que isto estaria beirando a própria heresia. Contudo, vamos aos fatos, deixando para trás todos nossos conceitos já pré-estabelecidos pela tradição!

Um primeiro lugar, lembremos que Deus não manda que seja construído qualquer templo! O primeiro Templo se esboça na mente de Davi (I Cr 22), e não somos autorizados pelo texto a crer que isto tenha ocorrido por alguma revelação ou vontade divina. Isto pode surpreender alguns, mas Deus havia dado instruções apenas para a construção de um Tabernáculo (no livro de Êxodo, isto fica muito bem detalhado). O que vemos na conversa entre o profeta e Davi, na realidade, parece muito mais uma vontade permissiva da parte de Deus, do que Sua vontade expressa !

Enfim, construído o Templo por Salomão, filho de Davi, ele serve de local de convergência da religiosidade das tribos israelitas. Com o tempo, o local acaba por se tornar o centro da vida religiosa. Séculos mais tarde, na época de Jeremias, o local já havia se tornado fonte da fé do próprio povo. No seu discurso (Jr 7), o profeta denuncia uma certa idolatria ao Templo. Ele servia como garantia (um amuleto) contra todos os males externos. E Deus estava indisposto a continuar com aquela situação de auto-engano religioso. Em poucos anos, o próprio Templo seria convertido em ruínas(587 a.C.). 

Voltando do cativeiro babilônico, uma das primeiras ações dos ex-exilados é reconstruir o Templo. Novamente não percebemos ordens divinas, mas puro empenho e zelo humano. O Templo, entretanto, funciona como um símbolo para a unificação nacional. Com o passar do tempo, ele acaba novamente a ser magnífico, opulento e grandioso. A sua profanação no período grego, no início do séc. III a.C., acaba por ser o estopim da revolta e o início do período Macabeu. 

As construções na área do Templo, atribuídas a Herodes, o Grande, pouco antes do início da nossa Era cristã, dão ao povo um sentido de ufania, isolando-se cada vez mais em sua soberba e exclusividade religiosa. O Templo era o símbolo deste orgulho exacerbado de todo judeu. Isto pode ser bem percebido nas palavras dos discípulos de Jesus (Mt 24) ao mostrarem a grandeza daquela construção ao Mestre. 

De certa forma, a resposta de Jesus acaba por desmerecer toda aquela opulência. Ele afirma que não ficariam ali pedras sobre pedras, apontando que tudo aquilo um dia teria um fim trágico (como de fato ocorre em 70 d.C.). 

Existe o caso em  que Jesus entra no pátio do Templo e acaba se enfurecendo e fazendo a "purificação" do mesmo (o que de fato parece ter ocorrido duas vezes, uma no primeiro ano e outra na última semana de seu ministério). Mas perceba que o que ocorre ali é um ato de repulsa por parte de Jesus ao "comércio da fé", e possivelmente, um protesto contra a exclusão dos "gentios", que tinham seu pátio invadido e completamente tomado pelos comerciantes religiosos. 

Isto levanta outro questionamento: Qual a base teológica e bíblica para esta separação entre judeus e gentios? 

Pedra de advertência  - Museu de Israel

Os judeus, neste período, colocavam inscrições em pedra em um muro nas cercanias do Templo, avisando que a partir daquele local, era proibida a entrada de gentios (não judeus), sob ameaça de morte. O zelo pela não maculação da santidade do local havia levado os piedosos judeus a impedir o acesso de um "não-eleito" à fonte mais interna da relação com o próprio Deus. Eles realmente criam (e ainda acreditam), que aquele local não pode ser pisado por "impuros". 

Muita piedade e santidade, não é? Mas, qual o texto da tão amada Tanach deles (o  Antigo Testamento cristão) que faz referência a uma excepção tão drástica? Rastreando o texto, não encontrei ainda qualquer base para esta posição teológica! 

De onde vem tal posição? O zelo exacerbado acabou por levar muitos ao fanatismo religioso. E isto não se restringiu unicamente ao caso do Templo, no que diz respeito aos judeus. O próprio farisaísmo acaba por levantar vários "muros teológicos" ao redor do texto Sagrado, impedindo o acesso a Deus. Era exatamente contra estes muros que Jesus batia.  

Fico me perguntando então: quais são os muros que nós mesmos construímos, mesmo que num zelo ardentemente cristão, que estão impedindo as pessoas "impuras" de se aproximarem de Deus? Quais as doutrinas e ensinos temos jogado sobre as pessoas, que nada mais produzem do que um afastamento de Deus, daqueles que o estão buscando de forma real e sincera?

Importante notar que, na Nova Jerusalém descrita em Apocalipse, não encontramos um Templo (21.3). Na revelação divina notamos que o Tabernáculo (que não é o Templo!!!) será a própria presença divina entre os salvos... 

Fica o desafio para uma reflexão!!! :-)

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