Apresentação do História e Arqueologia Bíblica

09 janeiro 2014

OS PRISMAS E GÊNESIS...

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O assim chamado “Prisma dos Reis”, datado por volta de 2170 a.C., foi  descoberto  em 1922 perto da cidade de Larsa, no sul da Mesopotâmia, uma cidade que ficava não muito distante de Ur,  cidade de origem do patriarca Abraão.  Este prisma é importante por narrar não apenas a existência de um dilúvio universal (mais corretamente falando, de toda a humanidade), mas especialmente por nos dar uma relação de nomes de dezenas de reis pré-diluvianos.

No nosso caso, este achado é de essencial importância por nos fornecer informações sobre o ambiente cultural onde cresceram os patriarcas bíblicos. Sabemos neste caso
que a cultura que envolvia-os era a suméria, o que torna as narrativas de Gênesis mais claras. A história, religião, cultura e sistema de leis dos antigos habitantes da Mesopotâmia acabam por dar ao texto bíblico a confirmação da historicidade dos relatos sobre a vida dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó.

Ficamos sabendo pelas descobertas dos arqueólogos que no séc. XXIV a.C.  a população da região sul da Mesopotâmia falava a língua suméria, enquanto que na zona central e norte da planície, o sumério se misturava com outras línguas do tronco chamado “semita oriental”. Já no extremo norte, a predominância era destas línguas semitas. Todos os habitantes da região mesopotâmica se auto-intitulavam “cabeças negras” (em sumério, sang-nhiga, e em semita, zal-mat-kakkadi). Este é o pano-de-fundo do semita Abraão que habitava uma região predominantemente suméria. Seu deslocamento a partir de Gênesis 12 é uma espécie de volta às origens semitas, pois Harã - primeira parada no caminho - ficava ao norte de Mesopotâmia, e Canaã era habitada por povos cananeus e alguns clãs semitas. 

Uma característica da região mesopotâmica era a total descentralização do poder, ou seja, não existia um estado organizado e unido, apenas cidades-estado que lutavam entre si pela hegemonia temporária de uma parte das terras férteis. A cidade mais proeminente era Nippur, que se localizava na parte central do vale do baixo Eufrates, onde se encontrava o templo do deus Enlil, adorado por todos os “cabeças negras”.  Existe a suposição de alguns estudiosos que foi exatamente nesta cidade que surgiu o primeiro sistema de escrita conhecida.

As outras cidades locais igualmente tinham seus templos dedicados aos deuses, que serviam como morada dos deuses. Cada cidade-estado tinha seu deus protetor, como era o caso de Sin, o deus Lua de Ur. Além das atividades religiosas, estes complexos também funcionavam como centros de atividades culturais, científicas e de ações governamentais.

Disto é testemunha um dos mais antigos documentos escritos de que se tem notícia, encontrado em Ur, cidade de Abraão. Neste  arquivo do final do III milênio a.C. (tempo do patriarca), encontramos a chamada “Lista dos Reis” que é a enumeração dos governantes de várias cidades de Mesopotâmia “desde o início do mundo”. Todas as dinastias ali relacionadas são divididas entre pré-diluvianas e pós-diluvianas. E isto coloca a era patriarcal bíblica muito próxima do registro escrito de eventos  de significação histórica mundial. Em outras palavras, os relatos de Gênesis parecem estar preservados pela tradição oral e escrita de um povo que não tem ligação direta com a tradição judaica. Abraão estava familiarizado com as histórias do chamado “Dilúvio universal”, assim como outras histórias que serão preservadas nos relatos contidos entre os primeiros 11 capítulos de Gênesis.

As conseqüências parecem óbvias. O testemunho da era pré-patriarcal (Ge 1-11) era do conhecimento comum ao menos dos habitantes da Mesopotâmia (isto sem levar em conta a avalanche de narrativas muito parecidas com Ge 1-11 encontradas por todo o globo, de épocas tão remotas quanto se possa ter registro). A implicação direta disto é que a teoria (idéia amplamente aceita entre as pessoas atualmente) de que a revelação divina à Moisés para escrever os relatos de Gênesis como uma “novidade revelatória” acaba caindo por terra. Se assim fosse, que Deus tivesse revelado a Moisés algo totalmente “novo e desconhecido”, teríamos que a tal “novidade” já era do conhecimento comum!!! 

Parece,  portanto, mais lógico tomar que as narrativas que encontramos no texto bíblico em questão já eram amplamente difundidas por se tratar de uma História Universal, contada à exaustão através das gerações. Em outras palavras, do ponto de vista do escritor/editor, Gênesis 1-11 é uma coletânea de fatos históricos que servirão como uma espécie de introdução ao assunto principal do livro, a intervenção e atuação de Deus na vida de um homem e seus descendentes. Abraão seria o início de uma nova jornada na história humana, o reencontro com Deus. 

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